26 de dez. de 2008

"Especial Chaves V": Conclusão do artigo "Chaves: um esteriótipo da latinidade mexicana"

por João Claudio Lins

Último capítulo do artigo “Chaves: um estereótipo da latinidade mexicana”, escrito por João Claudio Lins.

  • Conclusão

Dono de um humor neocantinflaniano, Chesperito é a forma mais sublime de traduzir a simplicidade de um circo. Bolaños é um comediante sensível, que faz do humor sua poesia; da representação de sua nação, seu cenário; seus personagens, memoráveis. Quem enxerga mais do que a superficialidade de "El Chavo del Ocho" pode perceber a riqueza de seu universo circense.

"Chaves" representa um estereótipo sócio-cultural do México e, por conseguinte, da América Latina. E é por esse motivo que há tanta empatia com os países subdesenvolvidos. A utilização dessas caricaturas, segundo o próprio autor, é uma forma de se identificar com o público do seriado.

A contribuição de "Chaves" para construção dessa identidade, portanto, é meramente ilustrativa e não cumpre o papel de denúncia. Bolaños foi taxativo ao afirmar que a função do humorístico não é desenvolver uma crítica social, mas sim entreter. Para ele, Chaves é apenas um garoto pobre que passa fome e vive em lugar pobre. Para se inspirar no cenário da vila, bastou olhar em volta.

A crítica do seriado surgiu “sem querer querendo”. É quase impossível representar um povo sem tocar em valores ou aspectos sociais. "Chaves" faz sucesso por tentar reproduzir, mesmo que de forma caricatural, aquilo que realmente é.

Se Dona Florinda fosse bela, Chaves rico, Sr. Barriga vilão e professor Girafales herói, o seriado perderia o sentido. É mais fácil nos identificarmos com a realidade de Chaves do que com o universo fictício Super-Homem.

Em "El Chavo de Ocho", os telespectadores se vêem e, de certa forma, orgulham-se disso. É como afirmar que o Brasil é o país do carnaval. De fato, nossa nação não se resume ao samba, mas nós somos identificados dessa maneira no exterior. Recebemos tal estereótipo que, de certa forma, nos dá orgulho e nos diferencia de outras culturas.

A carência técnica contida no humorístico tornou-se um saboroso tempero. A feiúra e a miséria, no espaço da carnavalização do seriado, tornam-se engraçadas e caricatas. Um divertido circo pobre, repleto de palhaços. De Hollywood, fica a referência do humor pastelão. Esteticamente, "Chaves" subverte o modelo norte-americano e, ainda assim, encanta pela simplicidade. A vitória do conteúdo sobre a forma.

A carnavalização e a construção de uma identificação com o México subdesenvolvido revisita um humor de raiz, ora escrachado, ora poético. Assim é "El Chavo del Ocho", um programa que sabe rir da pobreza sem ofender, que toca os corações sem fazer chorar.

  • Referências do artigo "Chaves: um esteriótipo da latinidade mexicana":
ECO, Umberto. Sobre espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
GAHAGAN, Judy. Comportamento Interpessal e de Grupo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980 KASHNER, Pablo. Chaves de um sucesso. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2006
SOARES, Ana Carolina. O astuto homem do barril. Contigo. São Paulo, 19/08/2004
VALLADARES, Ricardo. Entrevista com Roberto Bolaños. Veja: São Paulo, 20 out, 1999.
DOMINGUES, Fernando Buen Abad. Laberinto em el Valle televisivo. Madrid: Ediciones Laberinto, 2002.
VALDIZÁN, Rafael. El Comercio. Disponível em: . Acesso em: 16 nov. 2005.
YGLESIAS, Maria Perez. El Chavo del Occho: por que los aman los niños? Revista Herência: Editorial de la Universidad de Costa Rica (UCR), set.1990.

  • Conheça o autor:

João Claudio Lins é Publicitário, Especialista em Propaganda e Marketing e em Novas Mídias: Rádio e Televisão.

Mais matérias em seu blog Circo Eletrônico.

Leia as 5 partes do especial "Chaves: um esteriótipo da latinidade mexicana"

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