11 de nov. de 2009
Direto da Telinha: A evolução de "Malhação" e o perigo da volta ao passado
por João Gabriel Batista
O fato de encarar 2 temporadas de uma vez só aparentemente não mereceria tanta atenção, afinal a mesma autora já havia feito parte do time de autores de "Malhação" por sete temporadas consecutivas. Porém, diferente dos anos 90, dessa vez Patrícia Moretzsohn foi chamada em 2007 para levantar os índices da novela, que estava em queda livre desde o sucesso da fase 2004.

As semanas se passaram e a audiência de "Malhação" caiu mais ainda. Em alguns capítulos chegou a marcar pífios 14 pontos, motivo para acionar o sinal vermelho na Globo. O motivo para tamanho desinteresse do telespectador estava claro. "Malhação" mais parecia uma versão brasileira de "High School Musical". Algumas cenas, cantorias, danças, tudo muito parecido, o que afastou os adolescentes e não trouxe as crianças de volta às telinhas.
Os capítulos se passaram e então as autoras perceberam que o público não queria uma trama dotada de dramas empresariais como a de 2007 mas que também não estava pronto para aceitar uma história pouco mais adulta que a das "Chiquititas". Então Patrícia e Jacqueline apostaram no tema da gravidez, já discutido a exaustão na própria trama, mas com muito mais profundidade dessa vez. Em algumas novelas, quando se tratava de gravidez na adolescência, sempre os personagens "perdiam" o bebê e no decorrer dos 9 meses e "ficava a lição no ar". A gravidez de Angelina, personagem de Sophie Charlotte, se desenvolveu. A jovem mudou de comportamento, nada mais natural. O bebê nasceu, o instinto materno aflorou e as disputas com a vilã Débora, de Natália Dill, continuaram. O telespectador então voltou para acompanhar a novela.
Embora o núcleo principal tivesse uma dramática muito forte, Patrícia e Jacqueline também sabiam fazer humor. A trama ficou séria e ao mesmo tempo cômica, com a personagem de Mariana Rios, a cantora Yasmin Fontes. Coincidentemente as histórias infantis e o núcleo das crianças perdeu mais força ainda. A receita do sucesso havia sido encontrada.
Entre os méritos de Patrícia Moretzohn, e claro, seus colaboradores, estava o de enxergar o que o público estava querendo e testar novidades. O mocinho da trama que seria Luciano, vivido por Micael Borges, perdeu espaço no decorrer do folhetim. A vilã, que nunca teria o mocinho ao seu lado, teve. E tudo aconteceu de forma natural, os dois romances aconteceram, tiveram seu ápice e terminaram. Não houve juras de amor eterno - que sabemos que na adolescência não ocorre na prática.
Paralelo a isso, a protagonista Marina, papel de Bianca Bin, começava a se envolver com o vilão. Mas espere, nas últimas temporadas o vilão sequer chegava perto da mocinha. Todas suas tentativas e armações eram frustradas. O que houve? Patrícia Moretzsohn e sua equipe fizeram com que o vilão Caio, de Humberto Carrão, mudasse de comportamento. O personagem deixou de ser arrogante e mesquinho e pouco a pouco se tornou uma pessoa "do bem". O que nas temporadas anteriores levava 2 temporadas (ou 2 anos) para acontecer, aconteceu em menos de 10 meses. No final? Luciano, até então escalado para ser o principal personagem de "Malhação", deixa a história por aproximadamente um mês. Caio toma o seu lugar e engrena o romance com Marina. No último capítulo, como poucos esperavam quando acompanharam a estreia, Marina e Caio terminaram juntos.
Fazendo um balanço disso tudo podemos ver que "Malhação" evoluiu nos últimos 2 anos, deixou os didatismos e as ilusões do "felizes para sempre" de lado - ou pelo menos em segundo plano - e passou a mostrar uma realidade menos fantasiosa. Claro que na vida real o colégio que você estuda não é incendiado e seu namorado ou namorada é o/a principal suspeito ou suspeita. É surreal? É, mas no limite da dramaturgia. Tramas simples, sem grandes acontecimentos e mais factíveis não fazem sucesso, como foi o caso de "Dawson's Creek" e "Alta Estação", ambas exibidas pela Record.



Um rapaz irresponsável e mimado, mas de bom coração. Uma moça que quer resolver todos os problemas do mundo e que chega ao ponto de trazer um mendigo para tomar banho e se alimentar em sua casa. A filha do empregado se apaixona pelo filho do patrão.
Até agora mais parece a reedição da temporada 2004, de Leticia, Gustavo e a Vagabanda. E parece também que o surreal e a fantasia vão reassumir o papel principal em "Malhação". Será que vai ser assim mesmo? Será que o telespectador vai querer voltar a 2004?
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