11 de nov. de 2009

Direto da Telinha: A evolução de "Malhação" e o perigo da volta ao passado

por João Gabriel Batista

O telespectador acompanhou no final da tarde da última sexta-feira (06/11) mais um desfecho de "Malhação". Realmente, não é nenhuma novidade que mereça capas de revistas e nenhum tipo de badalação, afinal a novela já acumula 16 temporadas. Entretanto merece ser levada em conta a brilhante autoria de Patrícia Moretzsohn, que ficou a frente do roteiro por dois anos, e de seus colaboradores. Foram mais de 530 capítulos consecutivos, afinal a autora emendou duas fases de uma só vez.

O fato de encarar 2 temporadas de uma vez só aparentemente não mereceria tanta atenção, afinal a mesma autora já havia feito parte do time de autores de "Malhação" por sete temporadas consecutivas. Porém, diferente dos anos 90, dessa vez Patrícia Moretzsohn foi chamada em 2007 para levantar os índices da novela, que estava em queda livre desde o sucesso da fase 2004.

15 de outubro de 2007 e começa a 15ª temporada de "Malhação". Patrícia Moretzsohn estava de volta ao lado de Jacqueline Vargas. Uma fase que, no decorrer de seus mais de 300 capítulos, passou por inúmeras reviravoltas até se encontrar. A Globo apostou em cenas externas em um luxuoso Hotel em Angra dos Reis para o início da nova história. Já a dupla de autoras criou um incêndio misterioso e um tom mais infantil para dar início ao desenrolar do folhetim.

As semanas se passaram e a audiência de "Malhação" caiu mais ainda. Em alguns capítulos chegou a marcar pífios 14 pontos, motivo para acionar o sinal vermelho na Globo. O motivo para tamanho desinteresse do telespectador estava claro. "Malhação" mais parecia uma versão brasileira de "High School Musical". Algumas cenas, cantorias, danças, tudo muito parecido, o que afastou os adolescentes e não trouxe as crianças de volta às telinhas.

Os capítulos se passaram e então as autoras perceberam que o público não queria uma trama dotada de dramas empresariais como a de 2007 mas que também não estava pronto para aceitar uma história pouco mais adulta que a das "Chiquititas". Então Patrícia e Jacqueline apostaram no tema da gravidez, já discutido a exaustão na própria trama, mas com muito mais profundidade dessa vez. Em algumas novelas, quando se tratava de gravidez na adolescência, sempre os personagens "perdiam" o bebê e no decorrer dos 9 meses e "ficava a lição no ar". A gravidez de Angelina, personagem de Sophie Charlotte, se desenvolveu. A jovem mudou de comportamento, nada mais natural. O bebê nasceu, o instinto materno aflorou e as disputas com a vilã Débora, de Natália Dill, continuaram. O telespectador então voltou para acompanhar a novela.

Embora o núcleo principal tivesse uma dramática muito forte, Patrícia e Jacqueline também sabiam fazer humor. A trama ficou séria e ao mesmo tempo cômica, com a personagem de Mariana Rios, a cantora Yasmin Fontes. Coincidentemente as histórias infantis e o núcleo das crianças perdeu mais força ainda. A receita do sucesso havia sido encontrada.

Em 2009 Jacqueline Vargas deixou a Globo e Patrícia Moretzohn passou a comandar o roteiro de forma total. Vale ressaltar que houve colaboradores, entretanto a palavra final era dela e apenas dela. Nessa fase houve novos investimentos pela Globo, que criou um fictício shopping center e apostou em belos cenários como a praia de Canoa Quebrada para dar início a mais uma temporada. Patrícia Moretzsohn incluiu uma nova banda musical, de forma mais séria - e menos infantil que a proposta em 2008 - chamada Quadribanda. Além disso, foram inclusos mistérios e tramas interessantes que não fizeram com que o simples cotidiano dos adolescentes ficasse de fora. Tudo isso sem esquecer a comédia, vital para que uma produção da área de dramaturgia sobreviva em um horário como o das 5 da tarde.

Entre os méritos de Patrícia Moretzohn, e claro, seus colaboradores, estava o de enxergar o que o público estava querendo e testar novidades. O mocinho da trama que seria Luciano, vivido por Micael Borges, perdeu espaço no decorrer do folhetim. A vilã, que nunca teria o mocinho ao seu lado, teve. E tudo aconteceu de forma natural, os dois romances aconteceram, tiveram seu ápice e terminaram. Não houve juras de amor eterno - que sabemos que na adolescência não ocorre na prática.

Paralelo a isso, a protagonista Marina, papel de Bianca Bin, começava a se envolver com o vilão. Mas espere, nas últimas temporadas o vilão sequer chegava perto da mocinha. Todas suas tentativas e armações eram frustradas. O que houve? Patrícia Moretzsohn e sua equipe fizeram com que o vilão Caio, de Humberto Carrão, mudasse de comportamento. O personagem deixou de ser arrogante e mesquinho e pouco a pouco se tornou uma pessoa "do bem". O que nas temporadas anteriores levava 2 temporadas (ou 2 anos) para acontecer, aconteceu em menos de 10 meses. No final? Luciano, até então escalado para ser o principal personagem de "Malhação", deixa a história por aproximadamente um mês. Caio toma o seu lugar e engrena o romance com Marina. No último capítulo, como poucos esperavam quando acompanharam a estreia, Marina e Caio terminaram juntos.

Fazendo um balanço disso tudo podemos ver que "Malhação" evoluiu nos últimos 2 anos, deixou os didatismos e as ilusões do "felizes para sempre" de lado - ou pelo menos em segundo plano - e passou a mostrar uma realidade menos fantasiosa. Claro que na vida real o colégio que você estuda não é incendiado e seu namorado ou namorada é o/a principal suspeito ou suspeita. É surreal? É, mas no limite da dramaturgia. Tramas simples, sem grandes acontecimentos e mais factíveis não fazem sucesso, como foi o caso de "Dawson's Creek" e "Alta Estação", ambas exibidas pela Record.

Mas... Embora todo esse trabalho tenha sido bem feito, apesar dos erros do começo, há uma perspectiva de "Malhação" retornar ao passado. Nesta segunda (09/11) Ricardo Hoffsteter reassume a autoria da novela.



Christiana Peres, a protagonista de "Malhação ID"


Um rapaz irresponsável e mimado, mas de bom coração. Uma moça que quer resolver todos os problemas do mundo e que chega ao ponto de trazer um mendigo para tomar banho e se alimentar em sua casa. A filha do empregado se apaixona pelo filho do patrão.


Até agora mais parece a reedição da temporada 2004, de Leticia, Gustavo e a Vagabanda. E parece também que o surreal e a fantasia vão reassumir o papel principal em "Malhação". Será que vai ser assim mesmo? Será que o telespectador vai querer voltar a 2004?

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