5 de set. de 2009

Cena Aberta: Sem "A Fazenda", Record vai para o brejo

por Endrigo Annyston

Sabe quando você tem um filho e sempre o convida para conversar, alertando sobre o que, como cidadãos de bem, devemos ou não fazer? E, pela lógica, bem sabemos que o perigoso ou proibido, às vezes, para eles, é mais interessante, por isso, não é tão incomum quando fazem o contrário do conversado. Geralmente, é "quebrando a cara" que aprendem.

Assim funciona a Record. Esta coluna e dezenas de outras pelo Brasil alertaram sobre o erro de basear uma grade de programação exclusivamente em um único foco, no caso, no reality show "A Fazenda".

Os folhetins foram os primeiros prejudicados, e, para quem acompanha o universo televisivo, não é difícil destacar as telenovelas como um dos pilares da nova fase da emissora, talvez o principal, aquele que a fez se sobressair frente ao SBT e cativar o telespectador.

De cara, perderam as edições de sábado. Depois, a cada dia tinham um horário de exibição. Com isso, conseguiram que o fenômeno de audiência "Os Mutantes" saísse de cena sem todo o apelo que o impulsionou meses atrás. Na brincadeira, chateado com a situação, Tiago Santiago, autor da saga, - duvidosa, porém, vitoriosa -, trocou a Record pelo SBT.

"Poder Paralelo", novela com potencial para ser um dos grandes sucessos da rede, com história de verdade, passou, primeiramente, pelo processo de censura, o que ocasionou, e isso se tornou público, em descontentamento por parte do elenco e também do autor. Pra completar, as mudanças de horário fizeram a audiência despencar, e, hoje, dificilmente chega aos dois dígitos. Pelo "conjunto da obra", não duvidem, Lauro César Muniz pode ser o próximo a mudar de casa.

E agora, por fim, "Bela, a Feia", recém estreada, não consegue ultrapassar a barreira dos 6 pontos, e, raramente, quase nunca, conquista dois dígitos. É bem verdade que a história, um remake, já vem com gostinho de bolor, afinal, só no Brasil, duas novelas e uma série foram exibidas contando a história da feia – "Ugly Betty" ainda está no ar, pelo SBT.

Contudo, televisão é feita de hábito. Anunciada para às 20h30, 'Bela' já circula pela faixa das 22h. Ontem, inverteram o horário da novela com o "Tudo a Ver", que retornou à grade pela "milésima" vez. Estão testando a audiência.

Em resumo, o que acontece com a Record, hoje, é uma história que se repete. Quando explorou exaustivamente os casos Isabella e Heloá, a emissora viveu um "boom" de audiência, e, assim como "A Fazenda", tirou o sossego da Globo. Mas nem tanto.

"A Fazenda", por exemplo, apesar de ter conquistado audiência expressiva, nem de longe chega perto da "Casa dos Artistas", esse sim um sucesso sem comparação. Ameaçou uma novela das 21h ("O Clone") e bateu o poderoso "Fantástico" com surras históricas, e, além disso, superou a casa dos 50 pontos. Enquanto isso, o reality da Record comemora uma final fraca que não superou o "show da vida" e obteve mirrados 21 pontos.

O que acontece, de fato, é que nada justifica jogar para escanteio produções que, ao final da festa, teriam que sobreviver sozinhas. A lógica, e isso sim seria inteligente, teria sido aproveitar o sucesso do reality, entretanto, aproveitar, neste caso, significa mostrar serviço enquanto a audiência está bombando. E isso é bem diferente de passar o dia fazendo sensacionalismo barato com as sub-celebridades em programas de gosto duvidoso atravessando uma passarela ou entrevistando exaustivamente os pais dos concorrentes.

Agora, nem as novelas nem o "Hoje em Dia" e "Geraldo Brasil" conseguem audiências satisfatórias. O "Jornal da Record" foi outro prejudicado: a cada dia bate um novo recorde negativo.

Trocando em miúdos: vão repetindo a mesma trajetória do SBT. Pra quem não se lembra, o canal de Silvio Santos atingiu o fundo do poço quando perdeu credibilidade junto ao seu público. Uma marca, sem confiança, não sobrevive.

E o SBT, hoje, ainda pena para provar para os telespectadores que mudou. Fosse diferente, já teria recuperado a vice-liderança.

Por fim, há mais uma coisa que questiono: a Record diz que a Igreja Universal é apenas mais um cliente da emissora, ou seja, compra o horário das madrugadas, e, isso, justificaria a fortuna paga. Mas há um porém: diariamente a Record encerra sua programação em um horário diferente. É estranho um cliente que paga por 6 ou 7 horas, e, no entanto, leva 5 ou 4. E sem reclamar...

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